MCMLXXXIV A.D.

Culpe o Frio

Humanidade.
Atravessamos séculos
esculpimos montanhas
erguemos prédios;
ou casas, para morarem Santas.
e lares, abrigos esdrúxulos
na morada de Deus, ou cujas mesas
donde, quando se come,
é o pão que nem o Diabo comeu.
vivemos por bares, morremos em túmulos
por vezes somos as presas
ou caçadores, ou só vagabundos.

Muitas vidas terão os homi para fazer jus ao próprio nome.

Já fui ateu, fariseu, judeu, já fui todo só meu.
Eu já fui ele, ela, Morfeu, Tadeu.
Posso ter sido qualquer coisa sempre
ou nunca nada neste mundo
mas me ocorre de repente
alguém que não fui,
nem num segundo,
certamente... aquela Emanuele.

Ela, que impele,
e linda se descabele,
talvez o poeta tagarele,
talvez pele com pele.

Não estou falando de reencarnação,
não estou falando de adivinhação,
muito menos de ciência,
sequer se necessita do coração.
É mais simples, paciência,
apenas o encontro das nossas mãos.

Eis que uma palma encontrou-se com a outra,
minha alma encaixou-se mouca;
nada mais enxergava além da tua
alva presença a competir com a Lua!
E diria, frente minha figura pouca,
que esperei e muito por este instante
qual se abriria um novo adiante
e a História seguiria seu rumo
Eu resolveria tudo!
Tudo de errado neste Mundo!

Pra ninguém sentir mais medo.
Pra ninguém sentir mais dor.
Pra ninguém sentir mais frio.
Pra que tua morada na Terra seja justa.
Acredite, ó doutor. Acredite, guri vadio.

Eu sei, também me assusta.
Mas de palavras erguerei um palácio humilde,
onde Deus e o Diabo morarão livres
onde as Santas não precisarão ser puras
um lar esdrúxulo, numa pacata rua
prometo estas palavras, menina,
estas palavras que serão só suas.
Uma União. Uma unidade.

AnotherWorld

Quando se põe o Sol
e o céu acorda bemol
sustentando do melhor sustenido
cores de horizonte expandido
por esse escarlate vespertino
também são os cabelos, viva,
de Vivian, tão querida

sobrevem a tarde e sem alarde,
antes nunca me apareceu junto
aquela de fios negros como a noite
tecendo bela vereda contra o açoite

deste mundão que gira
da aurora que migra
pela labuta diária
guardadas também na palavra dedicada
após o cansaço do cotidiano
finalmente pude ver
os fios tecidos pelo poer soberano
e a textura escura da pela clara como a Lua
eu rio e envolvo em versos até corriqueiros
por presenciar o sovrevir da tarde
com o luar do nascer da noite, juntos
estes que jamais se encontram
enquanto passageiros do Mundo.

Smatron

Preâmbulo de um ato terrorista

Já que as exigências sequer foram questionadas
já que o doutor sequer tem interesse
te mando esse verso demente
cuja verdade crua cozinhará tua hipocrisia nua.

A burguesia não precisa de psicologia-psica
a burguesia precisa de uma bela pica.

O burguês lucra;
(sempre estando devendo)
pois a burguesa,
sem a pobreza,
não seria RYCA;

o burguês
não teria vez
não fosse o proletário
depende o primeiro mais do que o segundo,
d'outro: (assim como chão está para assoalho --
mas dizem que falo palavras grotescas, e sou louco;
hoje em dia eu nem me importo, muito menos ralho );

E penso HORSES, but:

of course, não malho...

esporte SIM, claro-- MATA;

eu prefiro, assim, mal falar de si
vamos falar mais do povo com Pedigree

A burguesia é tal boêmia maldita e hipócrita
que encomendou uma classe nova e mais porca
que, tipo, achou-se muito blasé;
por mais que a incoerência seja a mesma,
há anus e séculos,
houve sociólogo muito desperto
criou-se a classe biônica e agradável
para substituir o que os barbudos consolidaram,
como algo intragável

A custo de não mais ser blasé
esta nova classe usa muito padê
se veste como traveste a arte
pelo dinheiro
esquece e chora a mágoa inconsciente
de um véio do restelo
rima alhos com bugalhos
e tempera a comida com negativas pseudo-irônicas sem base
suas refeições são apenas um alarde
pois comem demais, mas com pouca dignidade
pois onde há muito falta entender o pouco
e onde se fala alto mas não se grita
perde-se o silêncio do rouco
quando a bailarina que dança,
dançará rufando-se tambores;
é apenas a dúvida se a menina
obterá dote, conquistando homens aos montes

E o menino atleta, ao conquistar;
claro, choverão louros aos montes;
"question is" que a rima da burguesia é sempre dores com amores,
pois inda românticos são seus senhores!

Agradeçam que não quero mais matar os anciões mentecaptos deste mundo!
por mim que vivam, vivam pelo menos mais um segundo!!!
pois mortos-vivos são, bando de vagabundos:
Skulls & Bones, Opus Dei e Avon deluxe
chupe minha rabeca, minha cachoeira, minha Peruche

Unidos venceremos, diz o ditado
eu que não serei um velho deitado
findo aqui como soneto, ultimato de classes
como ciranda, como o elo que junta os enlaces
filha-da-puta, teu amor que se declare-se
diga eu te amo, para o povo por ti explorado
diga eu preciso de você
diga que não pode viver
diga logo a verdade
plim-plim
e seguiremos adiante com nossa mediocridade.

Mademoiselle, and then BRETONES

lua branca, alta
menina pequenina, branca;
minha lua da noite,
à nossa alva, se canta!
que a calar só o açoite
que minha
que minha será a lua esta noite...

2011 uma odisséia na Terra

O monolito agora é pleno. Nossa casa.

Me vejo numa casinha minúscula, num parque, a gangorra lá fora, o gira-gira, gira a roda gigante do mundo, nossa casa. Mas não há interesse agora em nada disso. Estamos brincando de cuidar da nossa casa; como diversos dias, às vezes, vai, que eu não brinco nem com os meninos nem você com as meninas, por quê?
É que a coisa mais simples e íntegra, unida, única e livre que existe em todo lugar das imensas dimensões, é o monolito do trocar junto, é o monolito construído uno, por duas, ou tantas, mãos.
Nossa casa, nossas mãos.
É que a coisa mais simples e bela dessa vida é dar as mãos. Juntá-las, comparar as mãos. Sentir um mais que um por sermos dois. Outro dia que se descobriu, olha lá, minha mão ter o mesmíssimo tamanho da mão da minha amiga.
Nossa casa, nossas mãos, nossa vida.
Agora sim o monolito é pleno. Eu brinco mesmo com o que é mais sério pois quando eu me tornar velho,
quando eu me morrer assim nem sei,
quero ter sempre brincado de dizer verdades claras,
como tipo o sol ser amarelo, como tipo do beijo da mulata, como se até a vida não fosse assim tão ingrata.

Sim, nossa casa. Nossas mãos. Nossa vida. Senão a luta, nunca não.
Nós.

O ridículo coração da perfeição.

Você é bonita e eu gosto de você.
Eu gosto de muitas coisas
gente, bicho, do mundo inteiro;
e no mundo, tem muita coisa bonita --
tão bonita que às vezes até triste
-- mas você é bonita, e eu gosto de você.

não é nem porque você é toda tão bonita;
mas eu gosto tanto de você,
que você faz eu bonito;
tão bonito que até triste --
não triste que eu goste tão bonito
de você, claro. -- Pra mim tô nem aí.
você é bonita e eu gosto de você.

Haíra

Haíra, você sabia?
Que nos passos da tua trilha,
nasce e raia o dia.

Bem que o poeta gostaria
transformar o primeiro brilho d'aurora
numa única menina;
dizer que a luz da moça
lembra um amanhecer fino
seria a paz de um sábado
mas como vibrando um hino
radiante, marcha deusa-Sol do Egito
e acalenta, sorriso de criança matutino.

Eu, apenas um menino.
Meio que ainda digo
que sob teu cabelo lindo
há a pele, a neve, branca
tão branca, que assino.

Em verdade, é você que assina
sempre, carregando no nome
o alvorecer e tudo mais, consigo.

TOTALIRISMO

Por vestir as máscaras que as palavras vestem,
por sentir as texturas que as fadas tecem,
o traje do poeta são os trapos de palhaço da maior grife,
a tristeza do poeta é a tristeza mais triste,
sua busca é aquela que todo mundo desconhece, mas insiste.

O poeta, no picadeiro, é o palhaço mais escasso.
Quando forasteiro, é um gringo do pedaço.
Se pálido, brilha. Se negro é diva. Se vermelho, indispensável.
Da Terra quer ser o mais terráqueo dos terráqueos.
No entanto flutua, e decola, como viajante do espaço.

Mente para falar a verdade. Metaforiza a sinceridade.
Pinta a cidade, sem uma gota de tinta.
Dispensa a paisagem, para tu que é tão linda.

Minha musa das palavras, minha rima, minha lírica.
Eu e você seremos um dia apenas um. Mas aí será você quem assina

Paciência reta

Gabriela, diria dela,
sendo bela, pois,
da forma mais singela
o que se espera?
palavra séria?
frente ao sorriso
que amanhece nessa fronte
nos revela, barco a vela
(navegante do espírito)
vejo no brilho da janela,
um montão de tudo aos montes;
um punhado de tolice,
mas nada de balela!
carrega consigo,
uma quase tola certeza
de que a vida é feita do encontro
da conquista, com a espera

Quem me dera.

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